Discografia The Fevers (1970-1980) - Comentada

       Antes de aprofundar essa mistura de artigo/resenha, que me proporcionou uma emocionante viagem aos tempos de criança, gostaria de comentar uma passagem sobre os Fevers, que se encontra naquela fonte de pesquisa não muito criteriosa, que todos conhecemos pelo nome de wikipedia:

 

“(...) banda brasileira de rock e pop formada no Rio de Janeiro em 1964 e associada à Jovem Guarda. Fez muito sucesso na segunda metade da década de 1960 e início da década de 1970, vindo a se consagrar nos anos 1980 com as aberturas das novelas (Elas por Elas e Guerra dos Sexos, da Rede Globo). O grupo continua em plena atividade até os dias de hoje.”

 

A bem da verdade, sinto dizer que a única informação sensata e, sem dúvida, alentadora, que vemos acima, é: “O grupo continua em plena atividade até os dias de hoje”. De resto, uma sucessão de equívocos mostra como essa banda, tão importante na história da música brasileira verdadeiramente “popular” e, no âmbito dessa vertente, do rock nacional, é vítima não só do preconceito de boa parte da crítica “especializada”, mas também de supostos “estudiosos” da MPB, de superlativa formação acadêmica, mas bem pouco conhecimento sobre o gosto popular em seus aspectos mais legítimos.

De qualquer modo, tanto a crítica quanto a academia parecem compartilhar a infeliz tendência de ignorar os álbuns do grupo (sobretudo ao montarem aquelas listas dos “mais importantes do rock brasileiro”) ou a grande influência que exerceu, inclusive, sobre bandas formadas nos anos 80, que, após a Jovem Guarda, foi o período de maior afirmação e expansão do rock nacional.

A seguir, dizer que a banda se associa apenas à Jovem Guarda, sobretudo se considerarmos sua larga trajetória e a variedade de seu repertório, é um equívoco dos grandes! Sem falar, é claro, da boa amostra de desconhecimento sobre o estrondoso sucesso da banda ao longo de toda a década de 70, que está contida na afirmação de que fez muito sucesso, somente, até o “início da década de 1970”.

Por fim, e mais grave de tudo, afirmar que a “consagração” dos Fevers veio apenas depois de sua “globalização”, ao fazer temas de abertura de novelas nos anos 80, é desconsiderar todo o sucesso que a banda alcançou na década anterior e, sobretudo, os motivos para que tenham sido merecedores de sua estrondosa popularidade, conseguindo manter sempre boas posições nas paradas de sucesso e, consequentemente, nas listas dos mais vendidos. 

A propósito, quando lembramos que nos anos 70 as perspectivas musicais se diversificaram num ritmo alucinante, e muitos expoentes da década anterior ou mudaram sua orientação temática/musical; ou, simplesmente, desistiram ou oscilaram em suas carreiras, os Fevers conseguiram cumprir uma tarefa a que muitos se dedicaram, mas bem poucos realizaram: prorrogar o espírito da Jovem Guarda por, pelo menos, mais uma década, ao lado de Os Incríveis e, especialmente, Renato e seus Blue Caps! E tudo isso sem prestar reverência a gregos ou baianos, mas, isto sim, graças ao romantismo, inocência, bom humor, simplicidade, clima festivo e apelo popular de seu repertório. 

Como se nota, o objetivo aqui vai muito além de resenhar obras ou homenagear a banda. De certo modo, trata-se também de uma celebração nostálgica, de uma humilde tentativa de reparação histórica e, sobretudo, de um convite para que aqueles que pouco ou nada conhecem sobre a banda possam, finalmente, desfrutar de sua vasta discografia, com alguma orientação crítica.

 

1970 - The Fevers (disco da praia) **/

 

      Como é comum a vários artistas ao encararem uma virada de década, nota-se certa insegurança do grupo no começo dos 70.   

Não que a banda não justifique o fato de ter sido uma das melhores da Jovem Guarda ou perca a coroa de “reis do baile”. Nada disso. Mas é inegável que ainda falta aquela “identidade” que marcaria a história do grupo nos anos 70, a qual só apareceria, de fato, no disco seguinte. 

Além disco, o disco é desequilibrado tanto rítmica quanto tematicamente, alternando músicas tristes e alegres; lentas e dançantes; cantadas em inglês e em português de maneira meio aleatória, como se não houvesse um direcionamento definido, um planejamento mais coerente em sua direção artística.

Como resultado, temos um disco de covers, que, embora aposte em sucessos consagrados (“Yellow river”, “Reflections of my life”), não acrescenta quase nada aos originais (salvo em “My baby loves loving”, que, pelo menos, investe no instrumental; e em “Bridge over troubled water”, que tem seu andamento um pouco acelerado).

De resto, uma tentativa de seguir uma linha humorística em algumas músicas que, para ser bem sincero, são bem dispensáveis, tal como vemos nas versões “Promessa é dívida” (“You`ve guessed”), “Não tenha medo” (“Nuevo Laredo”) e na original “Urucubaca” – simplesmente, pavorosas!

Embora “Você Morreu Pra Mim” (cópia mal disfarçada de “Long tall sally”, de Little Richard) tenha tocado bem, o que salva mesmo a experiência é uma pequena amostra do que viriam a ser os Fevers, tão logo encontrassem seu próprio caminho naquela década, que apenas começava: “Cândida” (ou, como eles mesmos cantam: “Candída”).

E que bom que eles não levaram muito tempo para achar esse caminho!

 

1971 - The Fevers (“Mar de rosas”) ****

 

      1971 foi um ano mágico para os Fevers. Tanto que, para confirmá-lo, basta dizer que eles lançaram dois discos em menos de 10 meses! E que discos!

Nesse primeiro lançamento de 1971, “Mar de rosas” é a faixa de abertura que acabaria se tornando o hit número 1 daquele ano e uma das músicas obrigatórias em shows e coletâneas do grupo até hoje. A ela, seguem-se outros sucessos, como: “A vida na cidade” e “Angel baby”; além de canções bem escolhidas para compor um disco romântico, mas também dançante, divertido (e até crítico!), como: “Theme from love story”, “Quero paz“, “O amor é a razão” (canção estilo “peace and love” composta por Almir Bezerra, com vocais estilo Diagonais/Gerson King Combo, que ele já vinha ensaiando desde o disco anterior), “Seu olhar” (versão da ótima “Temptation eyes”, dos Grass Roots), “Não devo mais ficar” (versão da avassaladora “Have you ever seen the rain”, do igualmente avassalador Creedence Clearwater Revival) e “Farei você feliz” (que, embora seja uma composição própria, lembra muito uma das canções do seriado infantil The Bugaloos, transmitido originalmente pela TV norte-americana entre 1970 e 1972). 

Na minha opinião, os pontos baixos do disco são duas músicas que vêm em sequência: “Não devia contar” e “Eu e o sol”, mas nada que prejudique tanto o resultado final.

 

1971 - A explosão musical dos Fevers *****

 

Não apenas o melhor da banda, mas um dos melhores do rock brasileiro em todos os tempos, esse disco traz, “apenas”: “Vem Me Ajudar”, ”Nathalie”, “Sou Feliz”, “Barbarella”, “Você Não Viu” e “Já Sei de Tudo” (todas versões de Rossini Pinto, um dos grandes nomes da Jovem Guarda e colaborador constante do grupo nos anos 70); “De Que Vale Tanto Amor”, “A Espera” (petardo musical de Cleudir Borges, Rossini Pinto e do saxofonista Miguel Plopschi); e, como golpe de misericórdia, um presente de Almir Bezerra para a MPB e para os fãs, a magnífica “Ninguém Vive Sem Amor”, de sua autoria.

Aliás, por falar no maior vocalista da história da banda, Almir ainda nos oferece uma interpretação belíssima, em inglês, de “Oh Me Oh My (I'm A Fool For You Baby)”, de Jim Doris, gravada pela primeira vez pela lendária Lulu, em 1969.

Enfim, um disco sem músicas ruins, com aquele equilíbrio indispensável que todo fã procura para não ter que ficar apertando o controle (ou levantando a agulha rsrs) para mudar de faixa.

Sem sombra de dúvidas, o melhor trabalho da carreira da banda.

Inestimável, inigualável, indispensável em qualquer discografia de rock brasileiro.

      Preciso dizer mais?

 

1972 - The Fevers **/  

 

Apesar da bela capa – coisa em que, aliás, o grupo sempre caprichou – trata-se de um disco extremamente distante do anterior e que reflete certo cansaço por parte do grupo, provavelmente decorrente da rotina frenética de shows que se seguiram ao estrondoso sucesso de “A explosão musical dos Fevers” e da pressão da gravadora por um novo lançamento.

Tudo isso somado, talvez tenha faltado tempo e concentração para fazer um trabalho mais caprichado, como fica evidente já na primeira audição.  

De qualquer modo, sobressaem os destaques, como “Ninguém Vai Acreditar”, “Volte, Meu Amor”, “Angela, La, La”, “Não quero ouvir falar de você”, “Tudo que eu tenho”, “I love you, Baby”, “Deus”, “Não Consigo Esquecer” e até a versão de “Tomorrow”, de Paul McCartney, “Sozinho”, soa razoavelmente bem, tendo em vista a enorme responsabilidade que é reproduzir uma canção tão poderosa como essa.

Sobre os pontos baixos do disco, esses ficam por conta do tema de O poderoso chefão, “Speak softly love” (quem foi que teve essa ideia?); das triviais “Gato e Sapato” e “Não Tenho Nada”; e da aparição ocasional de um naipe de metais que lembra muito o estilo chicano dos mariachi, trazendo uma sonoridade um pouco mais cafona do que o necessário para algumas músicas.

 

1973 - The Fevers ***

 

    Esse disco também frustra as expectativas do público em torno de um lançamento que, ao menos, se aproxime dos magníficos trabalhos de 1971. No entanto, como é difícil fazer um raio cair duas vezes no mesmo lugar, não vamos exigir tanto desse disco, até porque ele é bem melhor que o anterior e tem a capacidade de contentar os fãs com versões de sucessos cirurgicamente bem escolhidos (“Hey girl”, da banda brazuca Lee Jackson; e “Se você me quisesse”/I`d love you to want me”, de Lobo) e a manutenção da fórmula romântico/festiva que os consagrou como “reis do baile”.

     Comecemos com os aspectos, a meu ver, negativos: “Superman”, apesar do “peso” da melodia e da boa temática, tem uma letrinha meio “mal costurada”, sobretudo se considerarmos que vem do grande Rossini Pinto, mestre em fazer boas versões. “Sem você” e “Meu desejo” me parecem escolhas infelizes não tanto por questões de mercado, mas porque me soam como canções enjoativas desde a raiz (“The Flying Dutchman” e “I'm on fire”, respectivamente).

     “Don't Say Goodbye”, apesar de ter feito muito sucesso na voz de Chrystian, é um momento romântico passável e “Tudo o que eu quero eu tenho”, da mesma forma. Já “Algo errado em mim”, apesar de composição própria, nem chega a ser tanto.

Para equilibrar, Sá, Rodrix e Guarabira acertam em cheio com suas contribuições: a jovem-guardista “Rock da pesada”; e a ótima “Gás neon”, uma daquelas musiquinhas “fofas” e alegrinhas que grudam rápido na mente do ouvinte. E, fechando a peleja, temos duas versões de músicas francesas, “Vivo a sonhar com você” e “Tudo passa”, que, a bem da verdade, são apenas razoáveis e deixam aquela sensação — sempre desagradável — de “músicas escolhidas aleatoriamente só para completar o disco”.

Os destaques mesmo ficam por conta de “Hey girl” e da ótima “Alguém em Meu Caminho”, que tocaram bastante e, sem dúvida, alavancaram as vendas do álbum.

 

1974 - The Fevers ***/

 

      Um disco curioso que, a rigor, não teve nenhum grande sucesso; mas, nem por isso, deixa de ser um ótimo trabalho.

       Para não alongar muito, vamos às observações:

      Embora alguns gostem, a boba versão de Rossini Pinto para “Oh my my”, de Ringo Starr, não me agrada muito e, junto com outra versão, igualmente boba e oportunista de “Mrs. Vanderbilt”, de Paul McCartney, são, a meu ver, os pontos baixos do disco.

     Em compensação, os pontos positivos superam de longe esses pequenos deslizes, com destaque para “My baby” (talvez a mais conhecida do disco), “Meus erros”, “Olhos azuis de bebê” (do grande Zé Rodrix), “Eu e você”, “Deixe que eu sonhe” e “Aquele fogo” — rockaço de Sá, Rodrix e Guarabira, que fecha o álbum.   

 

1975 - O Sol Nasce Para Todos **

 

    Como a boa sonoridade do álbum anterior ainda ecoava à época desse lançamento, muitos acharam que se tratava de mais um disco, no mínimo, “eficiente” dos Fevers. Quanta ilusão!

Curiosamente, ao contrário do anterior, esse é um álbum sem sucessos que, apesar disso, não consegue empolgar; mas desaponta fragorosamente até os ouvintes mais tolerantes.

Se não, vejamos:

“Charly”, “Foi tudo um sonho” e “Não consigo viver sem você” são enfadonhas; “O sol nasce para todos” é pretensiosa e boba; “Sugar baby love” parece uma versão tosca dos Beach Boys com backing vocals de Pablo Vittar; “Eu já sei de tudo” traz uma levada disco que, com pouco, poderia virar uma daquelas baladas sertanejas de “dor de corno”; e versões como “Mandy” (grande sucesso de Barry Manilow) e “Não tem mais jeito” não empolgam, contribuindo, apenas, para tornar o álbum ainda mais frio e desinteressante.

Nem mesmo a presença de “rockinhos” pontuais como “Você pra lá e eu prá cá”, “Amor não é isso” e “Máquina quente” ajuda, já que são todos, sem exceção, esquecíveis. E a versão da estupenda “One day in your life”, apesar de bem executada, também não ajuda o disco a decolar — afinal, por mais que se esforce, nenhum artista ou banda jamais alcançará a excelência da versão original, cantada por um jovem e inspirado Michael Jackson que, à época, só abusava mesmo do próprio talento...

No geral, um disco bem fraco, que, por mais que se esforce, não decola.

Melhor esquecer.

 

1976 - The Fevers */

 

     Embora aqui estejamos focando apenas na discografia de estúdio, vale a pena lembrar que, nesse mesmo ano, os Fevers lançam sua mais aclamada coletânea, reunindo a nata de seus sucessos entre 1968 e 1975: The Fevers – Sucessos de Ouro.

     Como complemento, trata-se de uma adição altamente recomendável para quem não quer possuir aqueles discos menos atraentes da banda só por causa de uma ou duas músicas aleatórias.

Assim, essa competente “garimpagem” conta, por ordem de lançamento, com as seguintes pepitas:

 

Já Cansei (The Fevers - volume 3 - 1968)

Agora Eu Sei (Os reis do baile - 1969)

Cândida (The Fevers - 1970)

Você Morreu Pra Mim (The Fevers - 1970)

Mar De Rosas (The Fevers - 1971)

Angel Baby (The Fevers - 1971)

A Vida Na Cidade (The Fevers - 1971)

Nathalie (A explosão musical dos Fevers -1971)

Sou Feliz (A explosão musical dos Fevers -1971)

Barbarella (A explosão musical dos Fevers -1971)     

Vem Me Ajudar (A explosão musical dos Fevers -1971)

Ninguém Vive Sem Amor (A explosão musical dos Fevers -1971)                 

      Note-se que, entre as selecionadas, nenhuma música dos discos de 72, 73, 74 e 75 aparece, o que só demonstra a nítida supremacia daqueles dois magníficos álbuns lançados em 1971.

   Mas, voltando a 1976, o novo álbum começa com uma toada caipira completamente distante do padrão habitual da banda, chamada “Dança do mexe-mexe”, de Rossini Pinto; e segue adiante entre altos e baixos, que, entre outras coisas, apenas demonstram como a escolha equivocada de músicas para versões pode levar a resultados desastrosos e até constrangedores, como é o caso, por exemplo, de “Gata”; e das chatérrimas “Sou assim”, “Paloma blanca” e “Sozinho”.

     A coisa não dá sinais de melhora nem quando entra em cena Zé Rodrix, desta vez bastante acanhado, contribuindo com um roquinho chamado “Dá um time xará”; e da canção “Vida ideal”, que, a bem da verdade, não acrescenta nem uma centelha de vivacidade ao álbum.

E o mais surpreendente é que todas — acreditem! —, todas essas canções encontram-se apenas no lado A — talvez o mais cafona e depressivo da história da banda!

Do lado B, a coisa segue com as péssimas escolhas das músicas que ganhariam versões em português, como “Para toda a vida”; alivia um pouquinho com “Só eu e você”, versão de Lillian Knapp para “There´s a kind of Hush”, dos Carpenters; mas segue ladeira abaixo com “Antes eu nunca fosse àquele lugar”, “Foi tudo mentira”, “Carruagem” e mais uma nota pouco inspirada de Zé Rodrix, chamada “Boca de espera”. Para fechar, a arrastada e insossa balada “Lembranças”.

A incompetência das escolhas, a pobreza dos arranjos, a falta de entusiasmo, acabam deixando a triste impressão de que a banda ou desaprendeu a tocar ou, simplesmente, só fez esse disco sob muita pressão.

   No fim das contas, como saldo, temos um álbum muito fraco, cujo desempenho só não foi mais comprometedor por conta do lançamento da já referida coletânea de Sucessos de Ouro, nesse mesmo ano.

 

1977 - The Fevers (Capa dos rostos)***/

 

Esse disco é, sem dúvida, um dos mais conhecidos do grupo.

Primeiro, por trazer a formação clássica da banda - a essa altura, um octeto, com a entrada do talentoso Augusto César. Segundo, por estampar na capa uma imagem formada por partes dos rostos dos integrantes, que, a alguns, pareceu estranha e bizarra; já para outros, criativa e, até, revolucionária.

Quanto às músicas, pessoalmente, considero a de abertura uma das melhores escolhas do grupo: “Estou Feito Um Demônio”, que, mesmo não sendo tão conhecida, é extremamente contagiante e cria boas expectativas a respeito do que está por vir.

A feliz escolha de versões de “If you leave me now”, do Chicago; e “Hey baby”, de Ringo Starr, também merece elogios. “Tem mulher na vida dele” e “Semente do mal”, além de realistas, são muito bem-humoradas; e “Esqueça tudo” é uma canção estupenda, daquelas para afogar as mágoas com um copo do lado.

Do lado B, apesar de mais fraco, “Hasta mañhana” e “Canadá” empolgam; “Mãe” é um pouco arrastada, mas tocante; e em “A vida é curta demais”, Almir e seu parceiro W. Barnes antecipam em uns 30 anos a mensagem dos Titãs em “Epitáfio”, sugerindo como aproveitar a vida, para depois não se arrepender daquilo que não fez.

Na minha opinião, os pontos baixos do disco são o “pseudosamba” “Estou com azar” (Fevers se arriscando no samba, ninguém merece!); e “Marcas do que se foi”, cançãozinha de réveillon que ninguém aguenta mais e, talvez, só não provoque mais enjoo nos finais de ano do que “Então é Natal”, na interpretação sofrível de Simone.

De qualquer forma, apesar de haver uma nítida diferença entre o lado A (bem superior!) e o lado B, trata-se de um bom trabalho, bastante lembrado pelos fãs.

 

1978 - The Fevers (“Pra cima, pra baixo”) ****/

 

     Na minha opinião, esse disco é daqueles que já começam arrasando pela capa, sem dúvida alguma a mais criativa e conceitual da história do grupo.

É claro que, para alguns, isso pode parecer irrelevante. Mas quantas capas procuram simular a apresentação de um show televisivo ao vivo, e o fazem de maneira tão engenhosa?  

Pois bem, essa é a introdução visual para uma experiência auditiva que acabará se revelando igualmente satisfatória, mesmo porque já inicia com a ótima “Pra cima, pra baixo”, música que deve ter marcado a infância de muitos marmanjos como eu, hoje na faixa dos 50.

A seguir, o disco mantém a boa pegada, alternando com competência faixas românticas e faixas dançantes, entre as quais podemos encontrar desde versões de Rossini Pinto a canções originais de Zé Rodrix, Paulo Coelho, além, é claro, dos próprios integrantes da banda.

Como não poderia deixar de ser, desse grande conjunto de mentes criativas só poderiam sair ótimos resultados, com destaque para: “Como é seu amor”, “Não posso ficar sem você”, “O tempo vai passar”, “Boa sorte”, “Tremendo careta”, “Eu queria”, “Baby, eu preciso de você” e, é claro, a queridinha dos fãs, “Onde estão teus olhos negros”. 

Em suma, um discaço! Obrigatório na discografia básica dos Fevers.

 

1979 - The Fevers Disco Club ***

 

Disco music, mas, nem tanto...

Aparentemente, mais um disco em que o grupo se viu com a responsabilidade de, ao menos, igualar o estrondoso sucesso do anterior. Se conseguiu? Acho que não. Mas, mesmo assim, trata-se de um bom trabalho, que mantém o grupo nas paradas, sobretudo com “Se você me quiser”, um de seus maiores sucessos.

 

1980 - Fevers 80 ***/

 

Esse foi o último disco com Almir Bezerra nos vocais (ele só retornaria nos anos 90), o que significou, obviamente, uma grande baixa para o grupo. De qualquer forma, um disco que ainda respira ares setentistas e, por isso mesmo, mantém uma grande qualidade entre as canções, os arranjos e a produção.

De certo modo, percebo aqui uma pegada muito mais “disco” do que a do disco anterior, o que pode gerar certa “confusão temporal” no ouvinte, mas nada a ponto de abalar sua afeição pelo trabalho ou fazer com que ele pareça, por assim dizer, “deslocado”. Nesse sentido, vale a pena destacar a inesperada interpretação de “Sangrando”, de Gonzaguinha — sem dúvida alguma, um dos melhores momentos do álbum!

Contudo, após ouvi-lo, fica a sensação de que, apesar de algumas músicas, dos figurinos e do design gráfico da capa, os Fevers só entrariam, de fato, na década de 80, no disco de 1981, quando Michael Sullivan assumiria a vaga deixada por Almir, orientando o grupo a uma esfera mais “noveleira” e, por assim dizer, “global” (se é que me entendem...) de produção e popularidade.

Em suma, aqui temos um disco que, se por um lado faz uma boa entrada de década; de outro, marca também o fim de uma era. Afinal, estamos agora em uma época diferente: mais colorida, mais otimista, porém bem menos ousada e criativa em termos musicais. Por esse motivo, ouso dizer que, com esse álbum, os Fevers esticaram, por pelo menos mais um ano, sua permanência nos anos 70 – e com grande estilo!

 

***

 

Assim, feitas todas as ressalvas, eis a ordem de classificação da discografia dos Fevers, de 1970 a 1980, do pior para o melhor, na minha modesta opinião:

  

     Colocação     -    Ano    -            Título            -               Cotação

 

          12º                1976      The Fevers                                     */

          11º               1973      The Fevers                                     **

          10º               1975      O Sol Nasce Para Todos                   ** 

            9º                1972      The Fevers                                     **/

            8º                1970      The Fevers                                     **/

            7º               1979      The Fevers Disco Club                     ***

            6º               1977      The Fevers (Capa dos rostos)           ***/

            5º               1980      Fevers 80                                       ***/ 

            4º                1974      The Fevers                                     ***/

            3º               1971      The Fevers (“Mar de rosas”)             ****

            2º               1978      The Fevers (“Pra cima, pra baixo”)    ****/

            1º               1971      A explosão musical dos Fevers          *****

  

            Bem-vindos ao universo musical dos Fevers e boa audição!